
Em reta
final, a novela Avenida Brasil tomou conta das rodas de conversa. Os
amigos conversam sobre futebol, e de repente alguém faz piada sobre
Tufão, evoca Carminha. E todos querer saber: “Quem matou Max?”.
Até a
presidenta Dilma Rousseff mandou reagendar um comício marcado justamente
para o horário do último capítulo da novela das nove da Globo, nesta
sexta.
É inevitável
o sucesso de Avenida Brasil. No Ibope, está próxima da média final de
39 pontos, o que equivale a quase 40 milhões de telespectadores, algo
que a TV estrangeira só conhece em ocasiões especiais, como o Oscar. Se
fosse nos anos 1980, Avenida Brasil estaria marcando em média 80 pontos.
É também inegável a qualidade da novela.
A produção
congrega ricos e pobres, bregas e chiques, em um grande almoço na laje.
Atrai a classe C com personagens populares, que espelham o “povão”.
Seduz os mais descolados com uma “estética de cinema”, com a exploração
da profundidade de campo, do uso da câmera na mão, de
uma decoupagem menos boba.
Avenida Brasil, enfim, é uma das melhores novelas dos últimos anos.
Mas a muitos
exageros. No horário da novela, pessoas inteligentes e descoladas se
comportam nas redes sociais como se estivessem diante de uma obra-prima;
outras, como se estivessem vendo o melhor time do mundo jogando a final
de uma Copa. Menos, bem menos.
O capítulo
de segunda-feira não teve interpretações “memoráveis”, ao contrário do
que Galvão Bueno bradou ontem de manhã, narrando Brasil x Japão. Avenida
Brasil não é “nosso” Lost, como escreveram no Twitter mais de uma vez.
E, desculpe, Fernanda Montenegro, mas João Emanoel Carneiro não fez
revolução de teledramaturgia alguma.
Porque
Avenida Brasil, acima de tudo, nunca deixou de ser uma telenovela
convencional. É verdade, no começo parecia série e telefilme, a história
desenvolvia em parcimônia em ótimos ganchos. Sustentou em um mês um
ritmo que as novelas costumam segurar somente no primeiro capítulo. Aí,
sim, foi ousada.
Mas,
passando a primeira fase, não teve como escapar do esquema industrial da
telenovela, movido a muito nhenhenhem e (no caso) soluções
inverossímeis, porque ainda não criaram história nem estrutura de
gravação que gere um ótimo capítulo por dia por um período de 180 dias.
Contanto,
Nina (Débora Falabella) passou meses cortando tomate e pimentão. Sua
vingança só foi deflagada por volta do centésimo capítulo, e ainda assim
parcialmente, porque a mocinha não destruiu completamente a vilã
Carminha (Adriana Esteves). Do contrário, seria o fim da trama.
Agora, na
semana final (“eletrizante” para muitos) quem surge como grande vilão é
um personagem secundário, que só se mostrou a cara que tinha
recentemente, o vovozinho Santiago (Juca de Oliveira).
Do ponto de
vista narrativo, Avenida Brasil também foi nada além de um novelão
clássico, melodrama puro. Seu tema precípuo, a vingança, é um clássico
da literatura Ocidental há quase 170 anos.
Dentro de alguns poucos meses, Avenida Brasil será apenas uma importante via do Rio de Janeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário