Você sai cedo de casa. Enfrenta um
ônibus lotado, um táxi a preço exorbitante ou um estacionamento
improvisado onde Judas reencontrou as botas. Depois ainda amarga algumas
horas na fila para entrar no estádio, debaixo de um sol escaldante.
Uma
vez lá dentro, é uma luta de foice para conseguir um lugar razoável. Os
ambulantes não dão trégua: continuam circulando (e atrapalhando a sua
visão, que já não é das melhores). Alegam, com afetada humildade, que
estão trabalhando, enquanto você estaria se divertindo –como se você não
tivesse trabalhado muito para pagar o seu ingresso. Ah, e boa sorte se
você precisar ir ao banheiro.
Finalmente
o show começa, com mais de uma hora de atraso. Você aponta um par de
binóculos para o palco, mas só vê formiguinhas rebolando. Pelos telões
dá para discernir mais detalhes, mas nada que se compare à imagem de um
DVD. Que você poderia estar vendo no conforto de sua própria casa.
Na
saída, o caos é ainda maior. Cai uma chuva fina. O transporte público
evaporou. O carro de um amigo, estacionado em local proibido, foi
multado E arrombado. Você caminha alguns quilômetros até encontrar um
ponto cheio de gente. Dali a muitos minutos, passa um ônibus solitário
–e abarrotado.
Com uma pitada de exagero, esta é a via-crucis de quem se propõe a assistir a um megashow. E olha que eu excluí dessa rotina alguns elementos, raros porém graves, como brigas ou acidentes.
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